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sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Governo do RN abre concurso para contratação de vidente



NATAL – Para sanar a desconfiança do eleitorado potiguar Rosalba Ciarlini tomou uma decisão inédita, contratar um vidente para encontrar as verbas arrecadadas pelo estado.

Desde o início do governo da Rosa, cortes e mais cortes de gasto são feitos, o governo em nada investe, e no entanto, o estado vem batendo recordes de arrecadação e para onde foi e vai o dinheiro ninguém sabe, ninguém viu.
Em entrevista dada, enquanto faxinava sua casa, Rosalba confirmou boatos de que um time videntes seria escolhido para resolver o mistério que envolve as verbas arrecadadas pelo RN. Indignada, a governadora falou “Estão duvidando de mim, mas eu vou provar” e mais uma vez afirmou que os cofres do estado continuam vazios “Nunca vi a cor desse dinheiro”, dizia ela abrindo uma cerveja para Carlos Augusto. Perguntada sobre o porquê da contratação dos videntes, a Ciarlini disse que já havia procurado o tal dinheiro em todo canto, vasculhado armários e cuecas, prometido três pulinhos para São Longuinho e nada, “Foi então que EU tomei essa decisão”, enfatizou a governadora que empunhava uma vassoura, dando uma piscadela para o marido que sentado no sofá bebericava sua cerveja.
Mais de 90% da população mossoroense apoiou a decisão e já está tudo certo. Para que não haja trapaças, será aberto um concurso público ainda este mês. Muitos videntes já se mostraram interessados. Walter Mercado acha que isso pode significar um retorno triunfal e postou em seu Twitter “Povo do Rio Grande do Norte, ligue djá!”, o renomado Herculano Quintanilha, primeiro cotado para assumir a empreitada, agora voa em outros ares. Mãe Diná adiantou que uma importante figura local irá morrer ainda este ano, Pai Xangô e Mãe Jurema reclamaram que o estado deveria dar preferência à prata local. Já inscrita, professora Séfora Cavalcante saiu na frente e disse que sonhou com o destino das verbas, mas só revelará caso seja aprovada no concurso.
Perguntada se apoiava a decisão da governadora, a prefeita Micarla de Souza disse que embora o método a ser empregado vá de encontro às suas convicções religiosas está orando para que o dinheiro apareça o mais rápido possível.

domingo, 23 de outubro de 2011

Da janela do ônibus


No cruzamento da Bernardo Vieira com a Prudente de Morais, mais ou menos, avistava do quarto assento do lado direito do coletivo, obviamente o lado da janela, um homem e um menino – provavelmente seu filho – na parada reservada aos ônibus do interior, já em frente ao Midway, um pouco distante. O ônibus foi se aproximando, e vi que o menino parecia ter fome. Seu pai franzia a testa, que parecia receber os raios de um forte sol do meio dia só seu, semi-aparado, olhando pra ver se havia vaga debaixo das árvores da região. Mas as rugas momentâneas da testa não eram devidas somente ao sol, não.
Sob a viseira do boné da campanha passada para o governo que tentava proteger o homem do sol, podia-se notar o abatimento moral daquele pai que via o filho como uma estátua de olhos brilhantes e água escorrendo da boca rachada olhando, sem outro foco, para um carrinho de milho e pamonha que costuma estacionar por ali. O menino, de sete ou oito anos, parecia um leproso olhando para Cristo – pelo menos depois de ver essa cena, era assim que eu imaginava o olhar de um leproso.
Logo chegou o ônibus com destino a Ceará-Mirim, que nem já para mais no local. E o homem de vestes simples que portava uma mala cheia de alguma coisa pesada puxou a mão de seu filho após chamá-lo umas três ou quatro vezes. Aquele pai parecia fazer algum esforço, e um bom esforço, e mais esforço para que o filho andasse, mas nada acontecia, nada movia o corpo magricelo daquela criança, que vestia uma bermudinha surrada, mais ou menos uns seis ou oito números acima do que o menino deveria vestir – era segurada por um pedaço de fio de antena amarrado do lado esquerdo aquele pequeno quadril.
Por fim, meu ônibus seguiu o itinerário, mas, arriscando minha cabeça, consegui ver o pai do menino tomando a mão de seu filho e o induzindo a chupar o dedão. O menino punha a mão livre no vidro da janela em que sentava, parecia querer pegar com a força do olhar e da mente inocente o milho que o vendedor entregava ao carona de um Corola que esperava quase sem paciência pelo troco da nota de vinte reais que usara para os grãozinhos amarelos que perseguiram o cearamirinesezinho nos sonhos daquela noite.